Tristeza, xô!

Tristeza, xô!
3 de novembro de 2015

“Você está triste? Fica assim não”. Frases como estas mostram o lugar onde colocamos a tristeza: escondida e soterrada atrás de um sorriso “de tudo bem”. Nossa sociedade não nos permite viver a tristeza. Temos sempre que estar alegres e sorridentes, ou pelo menos, demonstrar para os outros que estamos. Mas a tristeza não é a única emoção “negativa” que escondemos. Temos a raiva, a frustração, a dor…todas vítimas de nosso engano: para convivermos bem temos que controlá-las.

Temos dificuldade de aceitar/entender nosso lado “ruim” e procuramos escondê-lo ao máximo. Quando digo lado “ruim” refiro-me aos nossos comportamentos de manipulação, de falar mal e agredir ao outro e, também as emoções vistas como negativas pela sociedade. A raiva, a tristeza, a frustração são emoções naturais, mas duramente criticadas e tolhidas. Vemos as pessoas demonstrando o lado mais belo de si: o amor, a compaixão, a alegria. Ao repudiar o lado “ruim” de nós, sem pensar, estamos rejeitando a nós mesmos e faremos o mesmo com as demais pessoas. Seremos intolerantes quanto às nossas emoções e defeitos, assim como, seremos com o próximo.

Com uma nota de 100 reais posso comprar uma roupa, almoçar, ir ao cinema. Se eu perguntar se essa nota vale muito dinheiro, poderei ouvir como resposta um sim. Contudo, se essa mesma nota não tiver o outro lado, ela não valerá nada. As notas, as moedas, o símbolo de yin e yang não seriam nada sem a contrapartida, então, por que temos que ser diferentes e renegar nosso outro lado? Será que valemos tanto assim apenas com o lado “bom”?

Recentemente, a Pixar em parceria com a Disney lançou o filme infantil Divertida Mente que narra a confusão das emoções dentro do cérebro de Riley, uma menina de 11 anos. A líder das emoções é a Alegria que se esforça para Riley ser alegre. Ela evita a tristeza e a menospreza colocando nela a culpa por toda a confusão. Durante o filme, a Alegria aprende a importância da tristeza e de escutá-la assim como ao medo, a raiva e o “nojinho”. Todas as emoções nos comunicam algo. Então, por que não abraçar e escutar a tristeza e as outras emoções?

Quando vemos alguém triste, buscamos abraçar e reconfortar a pessoa. Mas não fazemos o mesmo com nós mesmos. Muitas vezes, precisamos parar, abraçar tais sentimentos e ouvir o que eles querem nos dizer.

Posso estar chateado por minha vida não tomar o rumo que esperava; por não ter os amigos que sonhava; o companheiro que desejava gerando o sentimento da tristeza. Nesse momento é importante vivenciar essa sensação e, no tempo devido, se reerguer e lutar por aquilo que deseja. Abraçar a tristeza é diferente de entregar-se a ela. No primeiro caso, permitimos sentir a perda, chorar por ela, reconhecer os sonhos e transformá-los em realidade possível. Já no segundo caso, ao se entregar à tristeza, evitamos sair de nossa zona de conforto e permitimos com que nossos pensamentos nos derrubem, deixamos nossa força de lado e não acreditamos em um futuro e na possibilidade de escolhas que ele oferece.

Ao ouvir a tristeza nos permitimos aprender com ela, resignificá-la e sairmos mais fortes. Então, abraçar ou se entregar a tristeza será uma escolha (blog caraminholas) sua. Qual delas você irá fazer?

Lembre-se: Vivemos em uma sociedade que não incentiva a expressão de nossos sentimentos. Isso muitas vezes pode ser difícil até mesmo para quem tenta fazê-lo e compreendê-lo. Assim, se precisar, procure um psicólogo que o ajude nesse processo.

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